quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Poema Deito-me

Deito-me
deito-me até adormecer
até adormecer no dia que passou,
no que já não me interessa
no que é completamente banalizado.

Deito-me para esquecer
o triste banal dia que tive,
deito-me para me apagar
da vida que levo mecanicamente,
deito-me na esperança de acordar
novo e não triste,apagado;
deito-me na monotonia das conversas
aquelas que se ouve no autocarro,
deito-me sobre a escola que já passou
aquele dia que já foi;
deito-me nas banalidades noticiadas
nos jornais e televisão.

Deito-me nesta sociedade portuguesa
que já é toda falsificada e fotocopiada,
já nada parece nem é igual, já não há
o lado genuíno.

Deito-me com várias esperanças
com vários desejos, sonhos
descubro que  tudo é ficção
tal como a vida que levo.

Deito-me no que já não me interessa
naquilo que de repente se torna banal
deito-me nas realidades estúpidas;
deito-me no passado
mas quando acordo lembro-me sempre,
deito-me na natureza
que me fez brotar selvagem;
deito-me na longa viagem
que acaba quando acordo.

Ás vezes desejava não pensar
não sentir, não falar, não ouvir
apenas e só olhar,ó menos via
mas não sentia,nem nada dizia
oh o que eu desejo para eu apenas ser visão!

Ás vezes acordo a pensar
que tudo é tão triste e cinzento,
porque é que na infância tudo parece mais puro?
porque é que na infância tudo é simplificado?
oh...enfim,simplesmente coisas!

Um dia vou-me deitar
desejoso que o outro dia chegue
mas que seja novo e perfeito.

Autor : Carlos Cordoeiro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Poema Máquina

Todas as palavras
são tão indecisas;
todas as ações
são como que automaticamente,
feitas por moldes, são todas repetíveis;
sinto-me negativamente máquina;
tal como a máquina, todo o meu ciclo
é repetível,igual e monótono;
o meu corpo como máquina
está a enfurrejar, preciso tanto de óleo;
o meu corpo precisa de ter manutenção
precisa de novos parafusos,ligações;
se eu receber o gelo da frieza humana
simplesmente congelo, morro, fico petrificado;
vendo bem estou petrificado,sempre estive;
não vejo o óbvio, não sinto nada;
todo eu sou máquina descascada pelo tempo.

Vocês sabem,quando a máquina é descuidada
não funciona, não trabalha ou gira;
é assim, é assim que estou a parar,
estou a parar, eu sou caro, o meu arranjo é caro,
eu não quero parar mas vejo-me neste caminho
o caminho é baseado no brilho, no cintilar de novas energias;
eu necessito de brilhar, necessito de funcionar.

Sou uma máquina
que precisa constantemente de trabalhar
uma máquina que tem que ter outra versão
uma máquina que tem que ser mais potente.

Eu, enquanto máquina
preciso de novos líquidos industriais
preciso de novas fontes, novas ideias e até mesmo
novas verdades.

Autor: Carlos Cordoeiro.