quarta-feira, 6 de julho de 2016

Poema A Arma

A Arma
que insiste constantemente usar
por propósitos egoístas,
por propósitos preconceituosos,
por propósitos completamente insanos,
por propósitos completamente doentios;
A Arma
que eu considero mortal
é aquela que afecta o coração
o coração dos que são puros,
daqueles que são genuínos, daqueles que
são o que são de forma tão pura,
tão pura como o aroma que sentes
das flores da primavera;
A Arma
é aquele brinquedo que dás
ao teu filho quando ele é criança
ele pensa que mata o que não vê
mas depois sente a ânsia disso;
A Arma
é aquela bem apontada para o alvo errado,
é aquela arma bem oleada para que o serviço
seja bem feito e fique tudo a brilhar,
para que apenas fique a mancha explodida por todo
o lado excepto as marcas digitais.




A Arma
aquela que faz um barulho rápido,
silencioso, barulhento, invisível
apenas se vê a dor de quem sofreu
mas que depois já se perdeu
enquanto vida, enquanto esperança a viver;
A Arma
foi aquela que usaste com normalidade,
com consciência, com banalidade, com sentido,
sabias o que fazias, sabias o que ias fazer
e mesmo assim seguiste em frente,
e mesmo assim achaste por bem ir,
e mesmo assim achaste por bem terminar algo
que nunca começou, algo que nunca começou,
algo que nunca começou na tua vida, nem sequer conheces
aquela pessoa que vais terminar, assassinar, silenciar;
A Arma 
que tu tantas orgulhas usar, que tu tanto usas
quer lá saber se é bala certa ou errada,
até achas engraçado o acto de puxar o gatilho,
o acto de apontar para um alvo injusto,
para um alvo que sabe que vai morrer, que está a tremer,
que já sabe o que lhe espera, mesmo sabendo que não
é essa a sua sina;
A Arma
que tu tens é um gosto: por uma causa, por um motivo,
por um honra, por um país, por uma guerra, por um prémio,
por uma medalha, por um dia glorioso, por dia em que te irão honrar,
pelos camaradas que perdeste, isto tudo para quê?
para depois passares anos completamente num sofá?
para depois passares anos a chorares pelos que perdestes?
para depois passares anos a olhar fotografias a preto e branco
que já nem se vê as caras das pessoas que mais amaste?
a má decisão foi tua, quem puxou o gatilho foste tu,
quem puxou a morte para o outro foste tu, quem fez do outro morte foste tu.




A Arma 
que tu tão bem seguras, nem tremes
nem ficas com medo, porque achas que te dá poder,
achas que te dá segurança, achas que tá energia,
que te dá adrenalina, que te dá força,
que dá energia mas apenas te dá cobardia, medo,
frieza, loucura, sensação de força, é pior que droga,
é pior que fogo, é pior que a morte,
é algo intencional, a arma que usas é aquela que usas
contra ti mesmo quando vais parar ao mesmo destino;
A Armaaquela que tu usas, que até achas que fazes boa figura
mas não passaste do pior, do pior dos cenários,
não passaste de ser o mau da história, todos te olham de lado,
estás morto, a arma que tu veneras é aquela que te matou,
mataste inocentes, mataste pessoas que eram amadas,
mataste pessoas que tinham vida, mataste pessoas que tinham família,
mataste pessoas que tinham amor, que tinham carinho, que tinham beijos
a dar a pessoas também queridas, também amadas;
A Arma
essa que matou tantas pessoas, meu Deus que arrepio de mágoa
que arrepio de dor, que arrepio de choro, que arrepio de injustiça,
as minhas lágrimas são pelas pessoas, as minhas lágrimas são pelos que partiram
injustamente, as minhas lágrimas são pelas pessoas grandes que morreram,
são pelas pessoas belas que se foram, pelas pessoas que tinha algo de grande,
as minhas lágrimas são pela diferença, pela maneira diferente de viver;
A Arma 
pode ter ganho, pode ter morto,
pode ter acabado, por ter tornado o sangue
em sangue, sangue de horror, sangue de morte
sangue de terror, sangue de mágoa,
mas agora o meu respeito vai para quem é estrela,
mas agora o meu respeito vai para quem partiu,
mas agora o meu respeito vai para quem é maior,
mas agora o meu respeito vai para os que viveram diferente,
mas agora o meu respeito vai para aqueles que se destacaram,
mas agora o meu respeito vai para aqueles que agora são luzes,
mas agora o meu respeito vai para aqueles que são estrelas
de um brilho maior, de um brilho inspirador.


Autor: Carlos Cordoeiro.

TO ORLANDO'S VICTIMS

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