domingo, 21 de agosto de 2016

Poema A Espera

A Espera
que tanto tive
em tentar recuperar o que
nem sequer conheci, nem sequer
vi, nem senti, nem amei como a ele
mas ele sabe quem é;
A Espera 
de um familiar
que me fez nascer, que me fez tornar luz
para ele torna-se uma estrela mais acima
e para cuidar e iluminar um novo rebento,
mesmo que faltasse algo;
A Espera 
foi olhar para casa e ver só uma figura
e faltar outra e como tal não haver
a Sagrada Família, não haver o sentido perfeito,
ou a harmonia sentimental plena
ainda assim fui constantemente uma flor
sempre a perfumar e a crescer;
A Espera
foi tão intensa por não saber,
por não conhecer, por não ouvir,
por não ver, amar, algo que é tão forte
mas que por isso teve o seu momento
de grandiosidade em criar-me.




A Espera 
foi as décadas, os anos todos, os meses, semanas,
dias, horas, minutos, segundos, que ficava
a pensar, ficava a meditar, ficava a pensar
porque isto é assim, porque não há momentos felizes;
A Espera
foi as fotografias apenas serem imagens
serem imagens de pessoa que deveria ter amado,
deveria ter conhecido, deveria ter sentido,
deveria ter falado, brincado, partilhar amores,
discutir mas não tive nada disto a não ser
uma dor amarga que durará sempre;
A Espera
foi pensar que poderias voltar, poderia conhecer-te,
poderia amar-te, poderia sorrir, poderia acreditar
que ao ver-te estavas mesmo comigo, que te podia tocar
mas isto tudo era demasiado, tudo isto era demais
para mim, e nem sequer nada pedia em troca
se tudo isto fosse verdade todos os dias, todos os anos;
A Espera
seria estar constantemente estar há tua espera
a olhar para todos os relógios da casa e do mundo,
e mesmo que todos quebrassem, que todos avariassem,
que todos se partissem, que todos incendiassem, ainda
assim continuava há tua espera até agora, até sempre.




A Espera
foi eu chorar nem tanto por tristeza,
mas também por não saber o dia que ia te conhecer,
um dia que ia poder dizer-te olá finalmente,
e aí sim, respirava de alivio, de alegria, de bondade,
o meu coração até se tornava ouro em ver-te,
a minha alma até ganhava um novo brilho,
os meus sentimentos ficavam mais iluminados;
ficava como que novo, um novo nascimento
mas desta vez justo, belo, divino e assim ficaríamos juntos;
A Espera
é algo tão corrosivo
porque mais ligação que tínhamos, no sentimento,
na lembrança, nos corações. nos amores,
e até mesmo em espírito é completamente difícil
chegar a ti, chegar ao teu carinho, chegar ao teu conforto;
A Espera nem sequer tem sala,
porque se tivesse até a própria sala ia embora,
as cadeiras ou as mesas tornavam-se sujidade,
com teias, com humidade, com tristeza,
e até eu estando lá tornava-me estátua,
até tu chegares e eu ser quebrado pela felicidade;
A Espera
é cada vez maior, é cada mais intensa,
é cada vez mais demorada, mais crítica
mais dura de aceitar, mas o que interessa
é que serei sempre o teu filho,
Serei sempre como que uma continuidade
da tua pessoa, do teu brilho, da tua chama de vida.




A Espera 
torna-se cada vez mais longa,
longa, e tão mais longa que nem
os meus sonhos duram tanto,
que nem as palavras chegam lá,
nem sequer o pensamento,
apensas chega lá o coração e o amor;
A Espera  
foi todo o meu sentimento que ganhou
raízes centenárias mas eu ainda sinto-me criança
no dia em que te espero, que te quero conhecer,
o meu sonho de criança, ainda tenciona conhecer-te
como aquele que pode brincar mesmo que já sejamos
velhos de idade mas não de espírito;
A Espera
é intensa, como todo este amor que sinto por ti,
é dolorosa, como quando soube que não estavas cá,
é injusta, por quem devemos amar partir muito cedo,
é cruel, por sofrer quem nasce e não aguenta tamanha dor mas vive-a
é estranho, por acontecer a nós, e não aos outros como se costuma dizer,
é macabro, na medida em que parece algo tão propositado,
mas tudo isto não passam de pesadelos que os sonhos acordados
ou a dormir mas que nem é todos os dias, por isso não vivo atormentado;
A Espera
é demorada que nem me sento, nem fico de pé,
nem me deito, nem me durmo, nem me entretenho
a passar o tempo à tua espera, simplesmente vivo,
simplesmente te espero inconscientemente, simplesmente te amo,
simplesmente te quero, simplesmente te sonho,
simplesmente espero naturalmente sem pressas,
sem mágoas, sem ressentimentos, sem dores
por teres partido cedo demasiado,


A ti dedico Pai.
Autor: Carlos Cordoeiro.

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